
TDAH: Uma jornada de descobertas e desafios invisíveis
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ainda é uma condição pouco compreendida pelo grande público. Apesar de afetar cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos globalmente, segundo a American Psychiatric Association (APA), o TDAH raramente figura nas tradicionais cartilhas distribuídas nos consultórios pediátricos. Enquanto temas como “Como tratar um resfriado” ou “Doenças mais comuns em crianças” dominam os materiais educativos, o TDAH continua sendo um tema subexplorado, carregado de estigmas e desinformação.
Entretanto, para pais que vivenciam a realidade de crianças com TDAH, a condição dificilmente passa despercebida. É o menino que nunca para quieto, corre de um lado para o outro, fala alto, não consegue esperar sua vez ou sentar por muito tempo. E, muitas vezes, ao lado desse pequeno dínamo está um pai ou uma mãe constrangido, esgotado e sem saber como agir.
TDAH em meninos e meninas: diferentes faces do mesmo transtorno
O TDAH não se manifesta da mesma forma em todos. Em meninos, o subtipo hiperativo-impulsivo é mais prevalente. Eles tendem a apresentar comportamentos como inquietação extrema, dificuldade em esperar a vez e impulsividade marcante, características que frequentemente chamam a atenção na sala de aula ou em ambientes sociais. Já nas meninas, o subtipo mais comum é o desatento, caracterizado por distração constante, esquecimento e dificuldades de organização. Elas não “incomodam” tanto quanto os meninos, o que pode atrasar ou dificultar o diagnóstico.
Estudos indicam que, nos consultórios, há cerca de dois meninos diagnosticados para cada menina, mas os especialistas acreditam que essa diferença não reflete a realidade – as meninas seriam amplamente subdiagnosticadas. Isso porque o comportamento mais “silencioso” e introspectivo das meninas muitas vezes passa despercebido por pais e professores, enquanto a hiperatividade dos meninos é mais evidente.
O impacto na escola e o início da jornada
O TDAH, como o próprio nome sugere, compromete a atenção e dificulta o aprendizado. Na escola, essas dificuldades tornam-se mais evidentes. Professores frequentemente se referem a alunos com TDAH como “distraídos” ou “inquietos”, rótulos que não ajudam a compreender a complexidade da situação. Muitas crianças chegam a ser punidas de forma inadequada, como ser colocadas fora da sala de aula, o que agrava ainda mais a exclusão social e emocional.
Como exemplificado pela história de Sônia, mãe de Carlos, de 11 anos, a descoberta do diagnóstico correto pode ser demorada e cheia de percalços. Os pais frequentemente passam por uma verdadeira odisseia, consultando inúmeros especialistas e realizando uma série de exames, apenas para ouvir que “não há nada errado”.
Diagnóstico e hereditariedade
O diagnóstico do TDAH é clínico e baseado em critérios comportamentais descritos no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Entre os sintomas, destacam-se a hiperatividade, a impulsividade e a desatenção crônica. Além disso, o TDAH tem um forte componente genético. Estudos apontam que cerca de 70 a 80% dos casos têm origem hereditária. Portanto, é comum que um dos pais ou ambos também apresentem o transtorno, mesmo que nunca tenham sido diagnosticados.
Superando os desafios
O tratamento adequado transforma a vida das crianças e das famílias. Além de medicamentos específicos, como estimulantes (metilfenidato e lisdexanfetamina), estratégias comportamentais, como reforço positivo e estruturação da rotina, são fundamentais.
A terapia familiar também é essencial. Como a dentista Christiane D’Angelo, mãe de uma criança com TDAH, bem colocou: “Tratar o TDAH é para a família toda, e não apenas para o portador”. Isso significa ajustar o ambiente familiar para melhor atender às necessidades da criança e oferecer o suporte emocional necessário.
O que precisamos mudar?
Comments