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Autoconhecimento e Autismo: Construindo um Mundo que Faz Sentido para Você

Foto do escritor: Jose Guilherme GiocondoJose Guilherme Giocondo

Autoconhecimento: encontrando aquela pecinha que falta!
Autoconhecimento: encontrando aquela pecinha que falta!
O diagnóstico de autismo, para muitas pessoas, é um divisor de águas. Compreender-se como neurodivergente significa revisar sua trajetória, reconhecer padrões de exaustão e sofrimento, e – principalmente – aprender a criar um ambiente mais favorável para seu bem-estar. Esse processo não é apenas sobre aceitar-se, mas também sobre escolher pessoas e lugares que respeitem sua forma de existir.
Pesquisas recentes apontam que a qualidade de vida das pessoas autistas está diretamente ligada ao grau de aceitação de sua identidade e à presença de redes de apoio que validam suas experiências (Cage et al., 2018; Botha & Frost, 2020). Isso significa que não se trata apenas de adaptação ao mundo neurotípico, mas também de encontrar espaços onde a necessidade de mascaramento seja menor e a autenticidade possa florescer.

O Impacto do Ambiente e das Pessoas no Bem-Estar Autista

Muitas pessoas autistas passam grande parte da vida tentando se encaixar em espaços que não consideram suas particularidades, o que frequentemente leva à exaustão social e emocional (Hull et al., 2017). Essa necessidade de conformidade, conhecida como "camuflagem autista", está associada a altos níveis de estresse, ansiedade e burnout (Mandy, 2019).
O ambiente ideal para um autista não é aquele que o força a mudar quem ele é, mas sim aquele que minimiza o sofrimento e permite que ele viva de forma autêntica. E isso inclui tanto o meio físico quanto os relacionamentos interpessoais.

1. Redução do Sofrimento e Sobrecarga Sensorial

Ambientes caóticos, barulhentos e imprevisíveis podem ser extremamente desgastantes para pessoas autistas (Robertson & Baron-Cohen, 2017). Isso acontece porque o processamento sensorial atípico é uma característica comum no TEA, tornando ruídos altos, luzes fortes e cheiros intensos muito mais impactantes do que para neurotípicos.
Soluções incluem: ✔ Optar por espaços mais tranquilos para encontros sociais. ✔ Criar rotinas previsíveis para minimizar a ansiedade. ✔ Usar fones de ouvido com cancelamento de ruído ou óculos escuros, se necessário.

2. Escolher Relacionamentos que Nutrem, Não que Drenam

A escolha de um círculo social adequado é crucial. Um estudo de Milton & Sims (2016) propôs o conceito de "duplo empoderamento", que sugere que a comunicação entre neurodivergentes pode ser muito mais fluida e menos estressante do que com neurotípicos.
Pessoas autistas frequentemente enfrentam dificuldades em relacionamentos onde não há compreensão de suas necessidades. Relacionamentos saudáveis incluem: ✔ Pessoas que respeitam seus limites e sua necessidade de recarga. ✔ Amigos que não exigem interação constante para manter a conexão. ✔ Ambientes sociais que permitam a participação no próprio ritmo.

3. Menos Máscaras, Mais Autenticidade

O mascaramento é uma estratégia comum, mas prejudicial a longo prazo. Mulheres autistas, por exemplo, frequentemente são diagnosticadas tardiamente por conta do alto nível de camuflagem social que desenvolvem desde a infância (Lai et al., 2015). No entanto, quanto menos você precisar mascarar, mais energia terá para viver de maneira plena e saudável.
Estratégias incluem: ✔ Priorizar espaços onde você pode ser você mesmo. ✔ Comunicar suas necessidades sem medo de julgamento. ✔ Buscar suporte profissional para desenvolver assertividade.

4. Buscar Comunidades Neurodivergentes

Estar entre pessoas que compartilham experiências similares pode ser libertador. Fóruns online, grupos de apoio e encontros para autistas são algumas das maneiras de encontrar um senso de pertencimento sem a necessidade de camuflagem.
Um estudo de Cage & Troxell-Whitman (2019) mostrou que autistas que têm uma rede de apoio neurodivergente apresentam menor risco de depressão e ansiedade. Isso reforça a importância de espaços onde a identidade autista não é apenas aceita, mas celebrada.

Criando uma Vida que Faça Sentido para Você

Se você é autista, saiba que não há problema em escolher ambientes e pessoas que te façam bem. O autoconhecimento é um processo contínuo, e cada passo dado nessa jornada contribui para um futuro mais leve e autêntico.
E se você convive com alguém no espectro, sua presença pode ser um grande diferencial. Ofereça apoio sem tentar modificar ou "consertar" a pessoa. Às vezes, a melhor forma de ajudar é simplesmente permitir que ela seja quem é.
Porque, no fim das contas, a questão não é se encaixar no mundo, mas encontrar (ou construir) os espaços onde você pode existir sem precisar se diminuir.
E você? Como tem moldado seu ambiente para se sentir mais confortável sendo quem é?

Referências

  • Botha, M., & Frost, D. M. (2020). Extending the Minority Stress Model to Understand Mental Health Problems Experienced by the Autistic Population. Society and Mental Health, 10(1), 20–34.
  • Cage, E., & Troxell-Whitman, Z. (2019). Understanding the Reasons, Contexts and Costs of Camouflaging for Autistic Adults. Journal of Autism and Developmental Disorders, 49(5), 1899–1911.
  • Hull, L., Petrides, K. V., Allison, C., Smith, P., Baron-Cohen, S., Lai, M.-C., & Mandy, W. (2017). "Putting on My Best Normal": Social Camouflaging in Adults with Autism Spectrum Conditions. Journal of Autism and Developmental Disorders, 47(8), 2519–2534.
  • Lai, M. C., Lombardo, M. V., Ruigrok, A. N. V., Chakrabarti, B., Wheelwright, S. J., Auyeung, B., ... & Baron-Cohen, S. (2015). Quantifying and Exploring Camouflaging in Men and Women with Autism. Autism, 21(6), 690–702.
  • Mandy, W. (2019). Social Camouflaging in Autism: Is it Time to Lose the Mask? Autism, 23(8), 1879–1881.
  • Milton, D. E. M., & Sims, T. (2016). How is a Sense of Well-being and Belonging Constructed in the Accounts of Autistic Adults? Disability & Society, 31(4), 520–534.
  • Robertson, C. E., & Baron-Cohen, S. (2017). Sensory Perception in Autism. Nature Reviews Neuroscience, 18(11), 671–684.
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